Sem retorno. Dois acordes apenas pra chegar no refrão, a garganta seca parecendo soprar um tufão de areia fina por sobre a língua e um engasgo insinuante. Por meio segundo, o palato superior sedimenta,
como houvesse lá hóstia grudada. Suor jorrando pelos cílios e visíveis somente luzes brilhando alternadas. Algodão no ouvido não foi lá ideia boa. Tudo soando meio
final de 2001, só que num calor delirante dos trópicos. A blusa completamente encharcada contrastando com lábios muito ressecados acabam exigindo também
todo um trabalho especial da respiração e daí foco até se
perde, com atenção sem o timing no deslize do dedo médio por
sobre os devidos trastes, antes que os outros três pousem pra formar o acorde seguinte. Mas não, o médio se arrasta viscoso no caminho, parando por conta própria
uma casa abaixo, ou - dizendo diferente - uma casa antes. De todo modo, o
dedo vai sangrar, isso não tem jeito, mas durante o tempo mesmo
de notar o semiton da guitarra, pigarro
fanfarrão impede tomada necessária de ar e a voz, refrão,
eis que não sai. Acorde seguinte também se equivoca e agora palavras em geral
tão virginais, lívidas, ilibadas e candentes, elas tão centrípetas findam se esquivando por entre territórios da percepção e memória. A sétima é
menor? É a parte da luva
ou da trégua? Já
cantei a da luva? Não
lembro. Será que respiro rápido pra entrar em anacruze? A treva, tão seleeeeta. Caralho,
não era treva, era trégua. Aliás, que porra de letra é essa? Que eu tinha na cabeç... Ih, agora! O que mesmo? Ah tá. Pronto. Sol maior. Fechou. Um aplauso. Escorro o suor com a palheta e agradeço, sem saber se minha voz apenas não saiu ou se não havia mais som no microfone.
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