terça-feira, 21 de junho de 2011

Transeuntes e ilícitas


a bardofissura das transeuntes era inconteste. alguém gritava "os ilícitas!! chamem os ilícitas!!!" as transeuntes e os ilícitas vivem constantes microconflitos. não é mais tão fácil hoje em dia a convivência entre pessoas em transe constante e pessoas comprometidas politicamente em promover o confronto com a lei... ah, bons tempos foram aqueles... "isso aqui está fora do controle!!", anuncia um agente de notícias pelo síntese. as transeuntes em polvorosa lançavam à multidão extratos de juazeiro enquanto os ilícitas faziam suas campanhas pelo livre consumo de itens há muito proibidos, como os obsoletos beijos e vinhos. faz tempo que não se decide mesmo nada por aqui... mas para recuperar o ultrapassado costume da citação - e tanto faz que me acusem de saudosismo por isso - gostaria de lembrar que, segundo john lennon da silva neto (2072), a pós-contemporaneidade foi herança direta do "penso, logo hesito", cogito da espera que já se apresentava consideravelmente desenvolvido em henri bergson (1859-1941), embora de modo um tanto quanto sibilino, diga-se de passagem... enfim, é que houve um tempo, antes daquela terceira redenção divina por todos os pecados cometidos por adão e erva embaixo da goiabeira... mas, enfim, era um tempo em que ler livros, escrever livros, livros sobre livros como borges, livros sobre queimas de livros como bradbury, tudo isso fazia parte do cotidiano... o aprendizado de qualquer coisa era absurdamente lento...   a gente precisava digerir bastante; e quando engolia rápido como essas pílulas, descia atravessado, causando seríssimas indigestões...   a tal ponto disso causar certa tristeza nos mais afoitos, nos mais ansiosos, que acabavam então sofrendo de defasagem, praga do século XXI...    mas o delay era também uma arma de guerra. os latentes aprenderam a utilizá-lo a seu modo e a repetição sequenciada e cadenciada de rastros fragmentários de ondas elásticas de pressão parecia começar a expressar enfim um afeto longo e retardado que aos poucos ia se perdendo endo ndo nd...  nada melhor então para dar constância ao transe ilícito que algum tipo de poiesis experimental no sonoro: eventos analógicos, desvios acústicos, acontecimentos digitais, passagens valvuladas, linhas transistorizadas... chocaria muito os ouvidos de uma daquelas pessoas do século XXI esta nossa divisão social em transeuntes e ilícitas... eles provavelmente reduziriam tudo à questão do masculino e feminino: porquê "os" ilícitas? porquê "as" transeuntes? isso ainda era um problemão na época...   felizmente, hoje em dia foi tudo superado. ou não.

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