a bardofissura das
transeuntes era inconteste. alguém gritava "os ilícitas!! chamem os
ilícitas!!!" as transeuntes e os ilícitas vivem constantes
microconflitos. não é mais tão fácil hoje em dia a convivência entre
pessoas em transe constante e pessoas comprometidas politicamente em
promover o confronto com a lei... ah, bons tempos foram aqueles... "isso
aqui está fora do controle!!", anuncia um agente de notícias pelo síntese.
as transeuntes em polvorosa lançavam à multidão extratos de juazeiro
enquanto os ilícitas faziam suas campanhas pelo livre consumo de itens
há muito proibidos, como os obsoletos beijos e vinhos. faz tempo que não
se decide mesmo nada por aqui... mas para recuperar o ultrapassado
costume da citação - e tanto faz que me acusem de saudosismo por isso -
gostaria de lembrar que, segundo john lennon da silva neto (2072), a
pós-contemporaneidade foi herança direta do "penso, logo hesito",
cogito da espera que já se apresentava consideravelmente desenvolvido em
henri bergson (1859-1941), embora de modo um tanto quanto sibilino,
diga-se de passagem... enfim, é que houve um tempo, antes daquela
terceira redenção divina por todos os pecados cometidos por adão e erva
embaixo da goiabeira... mas, enfim, era um tempo em que ler livros,
escrever livros, livros sobre livros como borges, livros sobre queimas
de livros como bradbury, tudo isso fazia parte do cotidiano... o
aprendizado de qualquer coisa era absurdamente lento... a gente
precisava digerir bastante; e quando engolia rápido como essas pílulas,
descia atravessado, causando seríssimas indigestões... a tal ponto
disso causar certa tristeza nos mais afoitos, nos mais ansiosos, que
acabavam então sofrendo de defasagem, praga do século XXI... mas o
delay era também uma arma de guerra. os latentes aprenderam a utilizá-lo
a seu modo e a repetição sequenciada e cadenciada de rastros
fragmentários de ondas elásticas de pressão parecia começar a expressar
enfim um afeto longo e retardado que aos poucos ia se perdendo endo ndo
nd... nada melhor então para dar constância ao transe ilícito que
algum tipo de poiesis experimental no sonoro: eventos analógicos,
desvios acústicos, acontecimentos digitais, passagens valvuladas,
linhas transistorizadas... chocaria muito os ouvidos de uma daquelas
pessoas do século XXI esta nossa divisão social em transeuntes e
ilícitas... eles provavelmente reduziriam tudo à questão do masculino e
feminino: porquê "os" ilícitas? porquê "as" transeuntes? isso ainda era um problemão na época... felizmente, hoje em dia foi tudo superado. ou não.
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