"William S. Burroughs", por Robert Mapplethorpe |
Hoje é o centenário do escritor beat William Burroughs, que exerceu e ainda exerce uma enorme influência na arte e na cultura dos séculos XX e XXI, sobretudo devido a suas referências às inúmeras drogas que tomou ao longo de décadas, aos questionamentos acerca das instâncias de exercício de controle no contemporâneo e à voz de marginal...
St. Louis Blues
St.
Louis, Missouri, cinco de fevereiro de 1914. Do casal Mortimer e
Laura Lee, nasce William Seward Burroughs II, batizado em homenagem a
seu avô, o inventor da máquina de somar que ainda tornaria a
Burroughs
uma
das maiores indústrias americanas do século XX(¹).
Mas, em 1929, Mortimer e Laura já haviam vendido sua parte da empresa
por algo em torno de 200.000 dólares. Possuíam uma loja de
presentes e um lar confortável, mas nenhuma fortuna. Aos oito anos
de idade, o filho do casal havia escrito uma novela com o curioso
título The
Autobiography of a Wolf
(as pessoas riam e corrigiam: você
quis dizer biografia de um lobo!
Não, ele quis dizer autobiografia de um lobo mesmo)... Aos
dezesseis, William teve uma experiência psicotrópica marcante, ao
ingerir hidrato de cloral, comprado em drogaria, algo que aprendera
em sua ávida leitura de livros de gangster: a dose foi exagerada e o
jovem teve que ser levado à enfermaria da escola, o que acabou
causando preocupação e embaraço entre familiares e professores.
Folheto distribuído pela Burroughs Adding Machine Co. |
Formação intelectual
Capa do livro de 1973 |
Chicago e New York: estágios
no mundo do crime
Allen Ginsberg, Lucien Carr e William Burroughs, New York, 1953 |
Burroughs e Kerouac brincando com uma faca |
Ali
mesmo, em New York, Bill começou uma jornada antropológica pelo
mundo das drogas, guiado por Phill White e Herbert Huncke. Bill nunca
tinha tomado pico antes, mas perguntou a Phil como se fazia e, após
alguns meses perambulando com ele, desenvolveu um pequeno hábito,
tendo Phill The
Sailor
White lhe mostrado como persuadir médicos a prescreverem morfina. Na
mesma época, Ginsberg e Keroauc apresentaram Bill a Joan Vollmer,
estudante de jornalismo na Universidade de Columbia que esteve fora
do campus, dando luz à Julie, no verão de 1944. Joan tinha se
separado do marido, voltado para New York e conseguido um apartamento
grande perto de Columbia, para onde então se mudaram Kerouac, Edie,
Hal Chase e Ginsberg, este último tendo sido expulso de Columbia em
1945. Bill também passou a frequentar o ambiente, onde obtinha fácil
companhia para seus crescentes experimentos com drogas. Bill e Joan
iniciaram um romance.
Joan Vollmer |
Billy (foto tirada por Allen Ginsberg) |
De Algiers à Cidade do México
Em
1948, William Burroughs II comprou uma casa em Algiers, entre
Mississipi e New Orleans, mas a estadia foi breve, pois se indispôs
com vizinhos e foi pego por posse de drogas. Por sorte, Joan arrumou
um bom advogado e Bill evitou a prisão, indo para tratamento. A
investigação policial foi considerada ilegal, mas o advogado
sugeriu-lhe que partisse, pois se
fosse pego de novo por drogas, em Louisiana, seria condenado a sete
anos. Era prudente deixar o Estado. Em maio de 1949, levou a família
para ficarem com Kells Elvins, em sua fazenda, onde começou a ler
Wilhelm Reich e construiu, com Kells, um acumulador de orgônio.
Burroughs, com seu acumulador de orgônios, 1974. |
No
fim de 1949, partiu com Joan e as duas crianças, Billy e Julie, para
a Cidade do México, onde acabou por se matricular na Mexico
City College,
estudando História Maia e Asteca e linguagem Maia. Continuava
mal-visto pela vizinhança, mergulhado na heroína e ostentando um
casamento altamente promíscuo, com ambos saindo ocasionalmente, cada
um por sua parte, com diferentes rapazes. Foram visitados por Elvins
e sua esposa, que encorajaram Bill a escrever. Kells sempre se
impressionou com sua memória, senso de humor seco e habilidade em
contar histórias e deu ao amigo a autoconfiança necessária para
fazê-lo começar. Elvins insistia que ele narrasse linearmente suas
experiências como usuário de drogas pesadas. Bill, mesmo chapado,
trabalhava diariamente, escrevendo em ordem cronológica, como um
diário. Em dezembro de 1950 o primeiro rascunho do livro estava
pronto, chamado inicialmente Junk
(lixo, droga, porcaria). No livro, a palavra junk
refere-se somente aos opiáceos injetáveis: heroína e morfina.
O escritor usou drogas com altíssimo potencial de causar dependência |
Capa da edição original |
Em 1953, foi publicado Junkie: confissões de um viciado irrecuperável. Junky é um livro seco, sem volúpias(²). Mas o primeiro texto com assinatura de William Burroughs, a “Carta de um perito no vício em drogas perigosas”, seria publicado somente em 1957, no British Journal of Addiction. Embora Junky tenha sido publicado antes, foi sob o pseudônimo William Lee (tentando esconder sua identidade de drogado de sua mãe, Laura Lee, obteve, obviamente, um retumbante fracasso), um dos diversos adotados por Will Deninson, Old Bull Lee etc.
A rotina William Tell
Logo
após ter vivido uma aventura no Equador, duplamente frustrada em seu
interesse de encontrar o yagé e ter relações sexuais com seu
companheiro de expedição, Lewis Marker, que não era gay, um
episódio mudaria todo seu futuro. Em 6 de setembro de 1951, logo
após voltar da expedição frustrada, Bill
ouviu o assovio de um amolador de facas na rua,
sentiu lágrimas escorrendo dos olhos e perguntou o que havia de
errado consigo mesmo. Com dificuldade de respirar, sentindo-se
deprimido, voltou para o apartamento e começou a beber intensamente,
a tarde toda, com Joan. Estavam sem grana e Bill ia vender uma arma.
Esperavam o comprador no apartamento de um amigo, quando Bill
abriu sua bolsa de viagem, puxou a arma para fora e disse
É hora de nossa rotina William Tell. Ponha um copo na cabeça.
Rotinas
eram uma invenção literária de Burroughs, baseada em fragmentos
espontâneos, entre realidade e ficção. Mas eles
nunca tinham feito uma rotina Guilherme Tell. Joan, que também
estava muitíssimo embriagada, gargalhou e colocou um copo de água
em sua cabeça, como se tratasse de algo muito habitual. Bill atirou
e o copo caiu no chão, ileso, enquanto Joan despencou na cadeira. A
bala atingira seu cérebro pela testa e ela foi declarada morta na
entrada do Hospital da Cruz Vermelha.
Bill foi solto sob fiança, mas tinha que comparecer semanalmente à prisão para assinar documentos. Julie foi enviada aos cuidados dos avós maternos, Billy aos cuidados dos avós paternos e Burroughs ficou sozinho no México. Mais de 30 anos depois, escreveria ter sido forçado à horrorosa conclusão de que nunca teria se tornado de fato um escritor senão pela morte de Joan.
William Seward Burroughs II parece sempre ter vivido sob uma ameaça de possessão e uma constante necessidade de escapar da possessão, do Controle. Mas, em sua própria avaliação, foi a morte de Joan que o colocou em contato com o invasor, o Ugly Spirit, e lançou-lhe em um esforço de uma vida inteira, no qual não teve escolha senão escrever sua rota de fuga. Escrever se tornou uma forma de fazer fugir, ou de tentar escapar desse controle que parece vir de fora, como um espírito obsessor. Controle permaneceu uma preocupação constante para o escritor.
Bill foi solto sob fiança, mas tinha que comparecer semanalmente à prisão para assinar documentos. Julie foi enviada aos cuidados dos avós maternos, Billy aos cuidados dos avós paternos e Burroughs ficou sozinho no México. Mais de 30 anos depois, escreveria ter sido forçado à horrorosa conclusão de que nunca teria se tornado de fato um escritor senão pela morte de Joan.
William Seward Burroughs II parece sempre ter vivido sob uma ameaça de possessão e uma constante necessidade de escapar da possessão, do Controle. Mas, em sua própria avaliação, foi a morte de Joan que o colocou em contato com o invasor, o Ugly Spirit, e lançou-lhe em um esforço de uma vida inteira, no qual não teve escolha senão escrever sua rota de fuga. Escrever se tornou uma forma de fazer fugir, ou de tentar escapar desse controle que parece vir de fora, como um espírito obsessor. Controle permaneceu uma preocupação constante para o escritor.
Notícia da morte de Joan Vollmer |
Da
América do Sul ao Marrocos
Em
1952, Bill começou a trabalhar em outro livro, Queer.
Em janeiro de 1953, partiu em uma expedição às selvas da América
do Sul, em busca da ayahuasca, relatada em correspondências trocadas com Allen Ginsberg, que viriam a ser publicadas posteriormente como Cartas do Yage. Em maio, quando Burroughs estava em Lima,
Junkie
foi publicado pela Ace Books em uma tiragem de 100.000 cópias. Queer
seria
publicado somente em 1986, 33 anos após ter sido escrito. Embora o
autor considerasse este uma continuação de Junkie,
há uma mudança na estratégia narrativa, que passa da primeira para
a terceira pessoa. No entanto, o contraste entre tais livros é,
de certo modo, sutil, pois, como diz o autor, a
terceira pessoa é de fato primeira pessoa. Ou
seja, o ponto de vista do narrador em Queer
é o de William Lee:
quando alguém sai de onde Lee está, desaparece até que ele o veja
novamente.
Allen Ginsberg e William Burroughs |
Em
dezembro de 1953, Bill deixou New York e foi para Tangier,
no Marrocos.
Convidou Ginsberg, por quem estava apaixonado de modo
ultra-dependente, para irem juntos, tendo tido o convite rejeitado
pelo amigo e admirador. Em Tangier, Bill se sentia só, isolado e
perseguido pela morte de Joan. Apesar do vício intenso (chegou a se
aplicar Eukodol a cada duas horas), trabalhava duro na escrita e nas
cartas trocadas com Allen, que permaneceu como receptor das rotinas
de
Bill, nas quais Tangier era chamada Interzone.
Nessa época, escrever não era mais um projeto, mas se tornou uma
parte essencial de sua vida. Bill tinha
que
escrever, havia se tornado de fato um escritor. E Interzone era um
veículo perfeito, pois espelhava Tangier, que, entre 1945 e 1956, era uma terra independente e barata para viver. Durante o
período, Bill tentou diversos tratamentos auto-administrados para
seu vício, sem muito sucesso. Em 1956, pegou 500 dólares
emprestados de seus pais, quitou dívidas e se mudou para Londres,
para tentar um tratamento com apomorfina, substância que tenta fazer
as células corporais atingirem seu equilíbrio metabólico anterior
ao vício, removendo assim a necessidade celular da droga. Dessa vez,
foi melhor sucedido.
Convite para a celebração do centenário de Burroughs em Londres (lugar secreto) |
De
volta a Tangier, Bill construiu um ambiente favorável à escrita,
com fotos e tiros na parede, um acumulador de orgônios e um
excelente majoun
(doce de haxixe) caseiro. Pela primeira vez na vida, escrevia o tempo
todo. Nesse contexto foi produzido o material que iria compor seu
livro de maior sucesso, Naked
Lunch,
assim como parte do material de The
Soft Machine
e The
Ticket That Exploded.
Bill costumava levar um bloco de notas para o jantar e fazia
anotações enquanto comia. Tomava majoun todo dia e acredita que não
teria conseguido o que conseguiu se não fosse por isso. A escrita
por fragmentos se tornou, a cada vez mais, um método rigoroso.
Escreveu para Allen que rotinas
são completamente espontâneas e provem de quaisquer conhecimentos
fragmentários de que você disponha.
De fato, não pode existir algo como uma rotina exaustiva. Burroughs
sugeria que não faria diferença a ordem em que o material fosse
lido. Sobre seu método, dizia: é
quase escrita automática. Eu costumo sentar doido de haxixe por um
período que chega a seis horas de digitação em velocidade máxima.
Embora as coisas estivessem indo bem em Tangier, Bill sentia saudades
de seus amigos americanos. Allen combinou ir com seu namorado, Peter
Orlovsky, e o amigo Jack Kerouac, ajudar a compilar e organizar os
manuscritos de Bill. Em 1959, foi publicado The
Naked
Lunch,
livro que seria adaptado para o cinema em 1991, pelo canadense David
Cronenberg (o título do filme em português virou Mistérios
e Paixões).
Burroughs cumprimenta um Mugwump no set de filmagem |
Filho pródigo
Como
diz Barry Miles, Burroughs é um escritor cujas
ideias, imagens e linguagem atingiram a população geral amplamente,
através filmes, vídeos, discos, fitas, ou obras de arte dos vários
artistas influenciados por sua imagem e ideias, sendo que estas
últimas atingiram pessoas que nunca leram seus livros e pensam nele
apenas como uma celebridade. Na leitura de Miles, cada um dos três
escritores beats mais famosos teve sua própria década: Kerouac, com
sua vida de fantasia livre na estrada, explodiu, nos anos 1950,
sobretudo para um público de cool
jazz branco
(Brubeck, Baker, Mulligan). Ginsberg tinha alcançado certa
notoriedade e fama durante o julgamento por obscenidade de Howl,
em 1957, mas foi para Europa e Índia, retornando somente em 1963,
tornando-se um dos gurus da geração hyppie. Em 1965, quando foi
lançado o álbum Call
me Burroughs,
muitas pessoas diziam que não tinham compreendido Bill até ouvirem
sua voz
de marginal
dizendo todas
aquelas coisas ultrajantes.
Mas foi somente no final dos anos 1970 que ele de fato retornou à América
como filho
pródigo.
No Saturday
Night Live,
em dezembro de 1981, Lauren Hutton o apresentou como em
minha opinião, o maior escritor americano vivo.
Burroughs foi festejado e honrado não apenas por artistas
companheiros, mas pelos tipos mais diversos e inconvenientes. E
embora Lonesome Cowboy Bill não quisesse nada com o mundo do rock, foram
os roqueiros que logo se ligaram nele, atraídos
por sua imagem ultrajante e referências a drogas.
Capa do disco de 1965 |
Sua
influência no meio musical é enorme. Além de sua presença na capa
de Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band,
dos Beatles, há que se contar também o Soft Machine,
banda inglesa de rock psicodélico, da qual participava o poeta
australiano Daevid Allen. Dave era, em Paris, parte da cena centrada
em torno do Beat
Hotel(³);
conhecia Burroughs e o pessoal da editora Olympia, daí, quando se
mudou para Londres, em 1966, para montar um grupo de rock, pegou o
nome de um livro de Burroughs.
Há também o grupo folk nova-iorquino Mugwumps (nome dado em
referência a personagens de Naked
Lunch),
formado em 1964, por Zal Yanovsky e John Sebastian, posteriormente
pertencentes ao Lovin' Spoonfull. Para darmos mais alguns poucos exemplos (haveria inúmeros outros), tem a banda Steely Dan, nome de um vibrador no livro Naked
Lunch, cujo título inspirou o nome de uma banda obscura de San Francisco e de onde foi também tirado nada menos que o termo que definiu todo um
estilo musical: heavy metal.
William Burroughs e Jimmy Page |
O
padrinho do underground e o Ugly
Spirit
William Burroughs e Matt Dillon, em Drugstore Cowboy, de Gus Van Sant |
Wayne Propst no funeral do amigo |
Burroughs
dizia que a linguagem é um vírus. As palavras seriam imagens com
sentido e, tanto em sua materialidade quanto nas ideias que portam,
se propagariam como vírus. Em suma, as invenções de Burroughs contagiam.
Trata-se, acima de tudo, de uma tecnologia subversiva de comunicação:
das rotinas aos cut-ups, a espontaneidade e o trabalho com fragmentos
foram ganhando lugar cada vez mais estratégico em sua arte, como
táticas de guerrilha
para combater o
“Ugly
Spirit”.
Bill viveu atordoado com o que teria causado aquele tiro na testa de
Joan: como foi possível que tudo tenha escapado ao controle? Uma vez
viu Gysin, em transe, anotar num papel “The
Ugly Spirit shot Joan because...”.
Brion não foi capaz de completar a mensagem ao sair do transe,
mas Bill nomeou então o que o atormentava. O Ugly
Spirit talvez equivalha ao controle da linguagem, dos corpos e do
pensamento pelas estruturas hegemônicas de poder. E Burroughs talvez seja, por sua vez, como um vírus instaurado nesse mesmo sistema de controle.
Brion Gysin e William Burroughs posam diante da Dream Machine |
OBS.: no fechamento deste texto, descubro que Barry Miles acaba de lançar uma nova biografia, por ocasião do centenário de Burroughs, anunciando se tratar da história da batalha entre William Burroughs e o Ugly Spirit. Chama-se Call me Burroughs: a life. Pelo visto, não vai faltar assunto...
Burroughs e os inúmeros gatos que tinha em casa ao final da vida |
REFERÊNCIAS:
BURROUGHS,
William. A linguagem é um vírus. Em: COHN,
Sérgio (org.). Geração
Beat.
Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2010.
______.
Almoço
nu.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
______.
Electronic revolution. Em:
GRAUERHOLZ,
James; SILVERBERG, Ira. Word
virus: the William S. Burroughs reader.
New York: Grove Press, 1998.
______.
Junky.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2005 (s. Intoxicações, v. 3).
______.
Nova
Express.
New York: Grove Press, 1992.
______.
O
gato por dentro.
Porto Alegre: L&PM, 2008.
______.
Queer.
London: Pan Books, 1986.
______.
The
Soft Machine.
New York: Grove Press, 1992.
______.
The
Ticket that Exploded.
New York: Grove Weidenfeld, 1987.
______;
GINSBERG, Allen. Cartas
do yage.
Porto Alegre: L&PM, 2008.
______;
KEROUAC, Jack.
E
os hipopótamos foram cozidos em seus tanques.
São Paulo: Companhia das letras, 2009.
FRIEDLANDER,
Paul. Rock
and roll: uma história social.
Rio de Janeiro: Record, 2008.
MISTÉRIOS
E PAIXÕES. Adaptação do original (Naked
Lunch,
de William Burroughs) e direção por David Cronenberg. Canadá/Reino
Unido, 1991. DVD 115 min..
MILES,
Barry. William
Burroughs: El hombre invisible – a portrait.
New York: Hyperion, 1993.
WILLIAM
BURROUGHS: POETA DO SUBMUNDO. Documentário. Direção Klaus Maeck.
Alemanha, 1986. DVD 54 min.
NOTAS:
1 - Em 1886, William Seward Burroughs fundou a American Arythmometer Company para comercializar sua própria invenção: uma máquina de somar cuja maior novidade era a impressão em papel. William faleceu em 1898. Em 1905, o nome da empresa foi mudado para Burroughs Adding Machine Company, em sua homenagem. Em 1911, foi adicionada à máquina uma função de subtração. Em 1923, foi criada uma máquina com a função direta de multiplicação e o capital da empresa começou a se multiplicar: em 1925, enquanto a Remington - que inventou, em 1873, a máquina de escrever - fabricava sua primeira máquina de escrever elétrica, a Burroughs produzia sua primeira calculadora portátil. Em 1927, a Remington se fundiu com a Rand Kardex (cardex é um sistema de fichas em armário, como vê-se em bibliotecas), para formar a Remington Rand. Em 1940, a Burroughs produziu uma calculadora portátil para o governo dos Estados Unidos e, em 1948, as vendas da empresa ultrapassavam 100 milhões de dólares. Em 1952, deram seu primeiro grande passo para o desenvolvimento futuro de um computador, ao produzirem um sistema de memória eletrônica para o ENIAC (Electrical Numerical Integrator and Calculator). Em 1953, a empresa foi renomeada Burroughs Corporation. Em 1961, lançaram a série B5000, primeiro computador dotado de memória virtual. Em 1986, a Burroughs fundiu-se com a Sperry Rand (que já era resultado da fusão, em 1955, da Remington Rand com outra empresa, a Sperry Corp.) para fundar a Unisys Corporation, a segunda maior empresa de computadores, à época, atrás somente da IBM.
2 - As duas grafias são utilizadas em referência ao mesmo livro. Junkie ou junky é a pessoa viciada em drogas pesadas.
3 - Hotel pequeno e de baixíssimo custo, em Paris, que se tornou uma espécie de ponto de encontro (e estadia) de uma série de artistas, entre meados dos anos 1950 e 1960. Dentre os diversos artistas beats e afins que viveram lá (daí o apelido do Hotel), estavam Allen Ginsberg, Peter Orlovsky, William Burroughs, Gregory Corso e Brion Gysin.
4 - Os livros de Burroughs The Soft Machine (1961), The Ticket that Exploded (1962) e Nova Express (1964) se tornaram conhecidos como trilogia dos cut-ups. O cut-up é uma técnica de colagem que Bill aprendeu em 1959, com o artista plástico Brion Gysin. O tipo mais simples consiste em cortar uma página de um texto ao meio horizontalmente, juntar os dois pedaços resultantes e cortar ao meio verticalmente. Isso gera quatro seções: a seção 1 é então colocada ao lado da seção 4 e a seção 3 ao lado da seção 2, em uma nova sequência. Levando isso adiante, podemos quebrar a página em unidades cada vez menores em sequência alterada (é mais fácil entender assistindo a um vídeo). O importante é aproveitar encontros casuais entre os textos, que acabam produzindo sentido. Não se trata de aproveitar todos os encontros. Certo trecho pode ser ou não utilizado; e, caso seja, pode ser ou não alterado. Cut-ups podem ser de diversos tipos, não apenas textos, mas também sons, fotos, vídeos etc.
NOTAS:
1 - Em 1886, William Seward Burroughs fundou a American Arythmometer Company para comercializar sua própria invenção: uma máquina de somar cuja maior novidade era a impressão em papel. William faleceu em 1898. Em 1905, o nome da empresa foi mudado para Burroughs Adding Machine Company, em sua homenagem. Em 1911, foi adicionada à máquina uma função de subtração. Em 1923, foi criada uma máquina com a função direta de multiplicação e o capital da empresa começou a se multiplicar: em 1925, enquanto a Remington - que inventou, em 1873, a máquina de escrever - fabricava sua primeira máquina de escrever elétrica, a Burroughs produzia sua primeira calculadora portátil. Em 1927, a Remington se fundiu com a Rand Kardex (cardex é um sistema de fichas em armário, como vê-se em bibliotecas), para formar a Remington Rand. Em 1940, a Burroughs produziu uma calculadora portátil para o governo dos Estados Unidos e, em 1948, as vendas da empresa ultrapassavam 100 milhões de dólares. Em 1952, deram seu primeiro grande passo para o desenvolvimento futuro de um computador, ao produzirem um sistema de memória eletrônica para o ENIAC (Electrical Numerical Integrator and Calculator). Em 1953, a empresa foi renomeada Burroughs Corporation. Em 1961, lançaram a série B5000, primeiro computador dotado de memória virtual. Em 1986, a Burroughs fundiu-se com a Sperry Rand (que já era resultado da fusão, em 1955, da Remington Rand com outra empresa, a Sperry Corp.) para fundar a Unisys Corporation, a segunda maior empresa de computadores, à época, atrás somente da IBM.
Placa colocada na entrada do Beat Hotel |
2 - As duas grafias são utilizadas em referência ao mesmo livro. Junkie ou junky é a pessoa viciada em drogas pesadas.
4 - Os livros de Burroughs The Soft Machine (1961), The Ticket that Exploded (1962) e Nova Express (1964) se tornaram conhecidos como trilogia dos cut-ups. O cut-up é uma técnica de colagem que Bill aprendeu em 1959, com o artista plástico Brion Gysin. O tipo mais simples consiste em cortar uma página de um texto ao meio horizontalmente, juntar os dois pedaços resultantes e cortar ao meio verticalmente. Isso gera quatro seções: a seção 1 é então colocada ao lado da seção 4 e a seção 3 ao lado da seção 2, em uma nova sequência. Levando isso adiante, podemos quebrar a página em unidades cada vez menores em sequência alterada (é mais fácil entender assistindo a um vídeo). O importante é aproveitar encontros casuais entre os textos, que acabam produzindo sentido. Não se trata de aproveitar todos os encontros. Certo trecho pode ser ou não utilizado; e, caso seja, pode ser ou não alterado. Cut-ups podem ser de diversos tipos, não apenas textos, mas também sons, fotos, vídeos etc.
Um comentário:
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